Soneto
de Álvaro de Campos
Quando
olho para mim não me percebo.
Tenho
tanto a mania de sentir
Que
me extravio às vezes ao sair
Das
próprias sensações que eu percebo.
O
ar que respiro, este licor que bebo
Pertencem
ao meu modo de existir,
E
eu nunca sei como hei de concluir
As
sensações que a meu pesar concebo.
Nem
nunca, propriamente, reparei
Se
na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei
tal qual pareço em mim? Serei
Tal
qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo
ante às sensações sou um pouco ateu,
Nem
sei bem se sou eu quem em mim sente.
Lisboa,
Agosto de 1913
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